Espaço do Ensino de Letras
  • Ínicio
  • Teoria da Linguística
    • Tipos de Alfabeto
      • Explicando os tipos de Alfabeto
        • Ferdinand de Saussure
          • Port Royal
            • Variações lingüísticas
              • Língua escrita e oral
                • Gramáticas
                  • Gíria e Jargão
                    • Linguística
                    • Teoria da Literatura
                      • Platão X Aristóteles
                        • Sócrates
                          • Catarse
                            • Platão
                              • Peripércia
                                • Gênero Lírico
                                  • Análise de um Poema
                                  • Leitura e Produção de Textos
                                    • Leitura e Escrita
                                      • Leitura e Compreensão
                                      • Inglês
                                        • Gramática
                                          • Quiz - Compreenção de Textos
                                            • Quiz - compreenção de textos 2
                                              • Quiz - Compreenção de textos 3
                                                • Exercícios de Inglês com cartoons
                                                  • Atividades com video 1
                                                    • Atividades com video 2
                                                    • Profissão Docente
                                                      • Cultura e Humanização
                                                      • Central de Dowloads
                                                        • Inglês
                                                          • Leitura e Produção de Textos
                                                            • Profissão Docente
                                                              • T. da Literatura
                                                                • T. da Lingüística

                                                                O modo de falar do brasileiro

                                                                Toda língua possui variações linguísticas. Elas podem ser entendidas por meio de sua história no tempo (variação histórica) e no espaço (variação regional). As variações linguísticas podem ser compreendidas a partir de três diferentes fenômenos.

                                                                1) Em sociedades complexas convivem variedades linguísticas diferentes, usadas por diferentes grupos sociais, com diferentes acessos à educação formal; note que as diferenças tendem a ser maiores na língua falada que na língua escrita;

                                                                2) Pessoas de mesmo grupo social expressam-se com falas diferentes de acordo com as diferentes situações de uso, sejam situações formais, informais ou de outro tipo;

                                                                3) Há falares específicos para grupos específicos, como profissionais de uma mesma área (médicos, policiais, profissionais de informática, metalúrgicos, alfaiates, por exemplo), jovens, grupos marginalizados e outros. São as gírias e jargões.

                                                                Assim, além do português padrão, há outras variedades de usos da língua cujos traços mais comuns podem ser evidenciados abaixo.

                                                                Uso de “r” pelo “l” em final de sílaba e nos grupos consonantais: pranta/planta; broco/bloco.


                                                                Alternância de “lh” e “i”: muié/mulher; véio/velho.


                                                                Tendência a tornar paroxítonas as palavras proparoxítonas: arve/árvore; figo/fígado.


                                                                Redução dos ditongos: caxa/caixa; pexe/peixe.


                                                                Simplificação da concordância: as menina/as meninas.


                                                                Ausência de concordância verbal quando o sujeito vem depois do verbo: “Chegou” duas moças.


                                                                Uso do pronome pessoal tônico em função de objeto (e não só de sujeito): Nós pegamos “ele” na hora.


                                                                Assimilação do “ndo” em “no”( falano/falando) ou do “mb” em “m” (tamém/também).


                                                                Desnasalização das vogais postônicas: home/homem.


                                                                Redução do “e” ou “o” átonos: ovu/ovo; bebi/bebe.


                                                                Redução do “r” do infinitivo ou de substantivos em “or”: amá/amar; amô/amor.


                                                                Simplificação da conjugação verbal: eu amo, você ama, nós ama, eles ama.


                                                                Variações regionais: os sotaques Se você fizer um levantamento dos nomes que as pessoas usam para a palavra "diabo", talvez se surpreenda. Muita gente não gosta de falar tal palavra, pois acreditam que há o perigo de evocá-lo, isto é, de que o demônio apareça. Alguns desses nomes aparecem em o "Grande Sertão: Veredas", Guimarães Rosa, que traz uma
                                                                linguagem muito característica do sertão centro-oeste do Brasil:

                                                                Demo, Demônio, Que-Diga, Capiroto, Satanazim, Diabo, Cujo, Tinhoso, Maligno, Tal, Arrenegado, Cão, Cramunhão, O Indivíduo, O Galhardo, O pé-de-pato, O Sujo, O Homem, O Tisnado, O Coxo, O Temba, O Azarape, O Coisa-ruim, O Mafarro, O Pé-preto, O Canho, O Duba-dubá, O Rapaz, O Tristonho, O Não-sei-que-diga, O Que-nunca-se-ri, O sem gracejos, Pai do Mal, Terdeiro, Quem que não existe, O Solto-Ele, O Ele, Carfano, Rabudo.


                                                                Drummond de Andrade, grande escritor brasileiro, que elabora seu texto a partir de uma variação linguística relacionada ao vocabulário usado em uma determinada época no Brasil.


                                                                Antigamente

                                                                "Antigamente, as moças chamavam-se mademoiselles e eram todas mimosas e muito prendadas. Não faziam anos: completavam primaveras, em geral dezoito. Os janotas, mesmo sendo rapagões, faziam-lhes pé-de-alferes, arrastando a asa, mas ficavam longos meses debaixo do balaio."

                                                                Como escreveríamos o texto acima em um português de hoje, do século 21? Toda língua muda com o tempo. Basta lembrarmos que do latim, já transformado, veio o português, que, por sua vez, hoje é muito diferente daquele que era usado na época medieval.


                                                                Língua e status Nem todas as variações linguísticas têm o mesmo prestígio social no Brasil. Basta lembrar de algumas variações usadas por pessoas de determinadas classes sociais ou regiões, para perceberes que há preconceito em relação a elas.

                                                                Veja este texto de Patativa do Assaré, um grande poeta popular nordestino, que fala do assunto:


                                                                O Poeta da Roça

                                                                Sou fio das mata, canto da mão grossa,
                                                                Trabáio na roça, de inverno e de estio.
                                                                A minha chupana é tapada de barro,
                                                                Só fumo cigarro de paia de mío.

                                                                Sou poeta das brenha, não faço o papé

                                                                De argun menestré, ou errante cantô
                                                                Que veve vagando, com sua viola,
                                                                Cantando, pachola, à percura de amô.
                                                                Não tenho sabença, pois nunca estudei,
                                                                Apenas eu sei o meu nome assiná.
                                                                Meu pai, coitadinho! Vivia sem cobre,
                                                                E o fio do pobre não pode estudá.

                                                                Meu verso rastero, singelo e sem graça,

                                                                Não entra na praça, no rico salão,
                                                                Meu verso só entra no campo e na roça
                                                                Nas pobre paioça, da serra ao sertão.
                                                                (...)

                                                                Você acredita que a forma de falar e de escrever comprometeu a emoção transmitida por essa poesia? Patativa do Assaré era analfabeto (sua filha é quem escrevia o que ele ditava), mas sua obra atravessou o oceano e se tornou conhecida mesmo na Europa.


                                                                Leia agora, um poema de um intelectual e poeta brasileiro, Oswald de Andrade, que, já em 1922, enfatizou a busca por uma "língua brasileira".


                                                                Vício na fala

                                                                Para dizerem milho dizem mio
                                                                Para melhor dizem mió
                                                                Para pior pió
                                                                Para telha dizem teia
                                                                Para telhado dizem teiado
                                                                E vão fazendo telhados.

                                                                Uma certa tradição cultural nega a existência de determinadas variedades linguísticas dentro do país, o que acaba por rejeitar algumas manifestações linguísticas por considerá-las deficiências do usuário. Nesse sentido, vários mitos são construídos, a partir do preconceito linguístico.

                                                                Powered by Create your own unique website with customizable templates.